sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pais muçulmanos acusados na Inglaterra de matarem filha porque ela era "ocidental" demais


Os pais de uma adolescente britânica morta em 2003 estão sendo acusados pela morte da jovem, e a irmã é apontada como a principal testemunha do crime.

Segundo a Promotoria de Cheshire, norte da Inglaterra, a irmã de Shafilea Ahmed testemunhou a morte. A causa apontada do crime eram os hábitos ocidentais de Shafilea - os pais queriam que Shafilea aceitasse um casamento arranjado com um paquistanês, mas ela se recusava e queria namorar e se tornar uma advogada.

Os pais de Shafilea, Iftikhar e Farzana Ahmed, negam o crime. Eles foram indiciados e estão sendo julgados. Shafilea desapareceu em setembro de 2003, e seu corpo foi encontrado cinco meses depois em avançado estado de decomposição, em um rio localizado a 12 km de distância da casa da jovem.

Em discurso ao júri do caso, o promotor Andrew Edis disse que a irmã mais nova de Shafilea, Alesha, viu os pais sufocarem a menina com uma sacola em sua boca. Depois, viu eles com sacos e fita isolante, dando a entender que eles planejavam esconder o corpo.
Ocidentalizada

Edis descreveu Shafilea como uma jovem que sonhava em cursar a universidade e em ter namorados, "como outras garotas de sua idade". 
Segundo ele, porém, os pais da garota respondiam a esses anseios com violência, na tentativa de forçá-la a um estilo de vida mais tradicional.

Um poema atribuído à jovem e lido na corte diz: "Só queria me encaixar, mas minha cultura é diferente; mas minha família ignorou". Shafilea chegou a ser mandada à casa dos avós, em uma região rural do Paquistão, aparentemente para se casar, mas ingeriu água sanitária. Foi levada de volta à Grã-Bretanha para tratamento.
A Promotoria diz que ela bebeu água sanitária "num ato de desespero" para evitar ser casada à força. Já a defesa alega que a ingestão ocorreu por engano e que Shafilea pensou se tratar de um produto de limpeza bucal. Depois de meses internada, ela teria retomado seu estilo de vida "ocidentalizado", o que, segundo a Promotoria, "entrava em conflito com o conceito de vergonha e honra de seus pais".

A adolescente foi vista viva pela última vez em 11 de setembro de 2003, quando sua mãe a buscou na escola. Seu desaparecimento não foi reportado à polícia pelos pais, mas sim por uma professora de Shafilea, que teria ouvido falar que a irmã da jovem, Alesha, havia confessado a amigos que o crime fora cometido pelos pais. Alesha, porém, logo negou ter dito isso. Os pais alegaram não saber do paradeiro de Shafilea.
"Confissão"

O caso avançou pouco nos anos seguintes. A Promotoria diz que Alesha não falou sobre o ocorrido durante sete anos, até que foi presa por ter participado de um roubo à casa dos próprios pais. Na ocasião, ela teria confessado à polícia que seus pais "agiram em conjunto" para matar a irmã.

Alesha deverá ser chamada para testemunhar perante a corte. O júri do caso também ouviu da Promotoria que a polícia colocou escutas na casa da família Ahmed, após o desaparecimento de Alesha, e gravou Iftikhar falar a seus outros quatro filhos que eles "não deveriam comentar nada na escola, ou haveria problemas sérios".

Fonte: Terra