Um grupo ativista gay
elaborou e publicou uma cartilha eleitoral que apresenta uma série de
direcionamentos, visando instruir os homossexuais a votarem apenas em
candidatos que apoiem as causas defendidas pela chamada “agenda gay”.
Em seu texto de
apresentação, a cartilha afirma ter sido criada “motivada pelo desejo de
cumprimento do bem estar do indivíduo e da pessoa LGBT”. Batizado “Cartilha
LGBT para as Eleições 2012/2014″, o material é assinado por membros da LGBT
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros) Brasil e com
colaboração de usuários do Orkut e Facebook.
- Uma das ações mais diretas e eficazes
nesse sentido está em nossa representação nas entranhas políticas para promover
adição de leis que atendam nossas demandas – completa o texto, que afirma que
tal cartilha é baseada nos princípios de igualdade da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e na Constituição Federal.
Afirmando que os eleitores
gays devem colocar como prioridade em seu voto o fato de “ser um LGBT”, à
frente de seus outros aspectos sociais como, inclusive, orientação política, o
texto descreve como identificar os candidatos que apoiem a causa gay, e também
lista os políticos a serem combatidos pelos homossexuais, dando grande destaque
aos cristãos, e aos que falem de “valores morais”.
- Os grupos que se opõem aos nossos
direitos, principalmente os fundamentalistas evangélicos e católicos, estão
cada vez mais organizados e articulados, ganhando cada vez mais espaço e
prestígio nos fóruns políticos – destaca a cartilha.
Entres as características
que cita a serem observadas em um candidato, a cartilha exalta o fato de o
candidato ser homossexual ou “francamente simpatizante”.
- Devemos preferir candidatos LGBT ou
claramente pró-LGBT ainda que isso signifique deixar de votar no nosso amigo,
parente ou partido, se estes não se comprometerem sinceramente com a nossa
causa – conclui o texto de apresentação da cartilha, que em seguida fala
brevemente sobre o funcionamento do sistema eleitoral no Brasil.
A maior parte da cartilha
é dedicada a listar partidos que devem ser evitados pelos gays nas eleições, os
principais motivos declarados pela cartilha para se evitar esses partidos é a
presença de membros dos mesmos na Frente Parlamentar Evangélica (FPE) e a
representatividade dos políticos evangélicos na legenda.
O primeiro partido dessa
lista é o PR (Partido da República), apontado com um “partido a ser evitado e
até combatido pelos LGBT”. Os motivos listados para essa repulsa é o fato de o
partido ter sido o primeiro a acolher candidatos da Igreja Universal, por ter
entre seus representantes os evangélicos senador Magno Malta (ES) e deputado
Anthony Garotinho (RJ) e também por ter vários representantes na FPE.
Outro partido apontado
pela cartilha para ser “evitado e até combatido” é o PRB (Partido Republicano
Brasileiro), por também ter representantes na FPE. O partido, do qual faz parte
o ministro Marcelo Crivella, é criticado na cartilha por ser, de acordo com os
ativistas gays, “um importante braço da Igreja Universal no Congresso”.
A cartilha faz também um
ataque direto ao PSC (Partido Social Cristão). Com nove membros na FPE, e tendo
o Deputado Marco Feliciano como um de seus principais representantes, o partido
é atacado pela publicação, que afirma que “LGBT que vota nesse partido deve ter
examinada sua sanidade mental”.
Outros partidos que
carregam em suas legendas o rótulo de cristãos, são também atacados pelos
ativistas gays, como o PTC (Partido Trabalhista Cristão) e o PSDC (Partido da
Social Democracia Cristã), que tem como bandeira o mote “compromisso com a
família”.
- Quando um político enche a boca pra falar
de “família” e de “valores cristãos”, pode saber que é só um jeito bonito de
dizer que se trata de um partido machista, ultraconservador e homofóbico –
ataca a cartilha ao se referir ao PSDC.
Por defender a moral
cristã, o PHS (Partido Humanista da Solidariedade) também entrou na lista de 12
partidos a serem combatidos da cartilha, que afirma: – George W. Bush defendia
a “moral cristã” e fez duas guerras, uma delas contra a determinação da ONU.
O ataque a partidos que
tenham algum envolvimento com grupos evangélicos segue com declarações
contrárias ao PSD (Partido Social Democrático). A cartilha afirma que o Gospel+
relatou a aproximação do partido com parlamentares evangélicos e usa esse fato
como motivação para afirmar que “o voto nesse partido é de alto risco a se
voltar contra os LGBT”.
Não são apenas os partidos
com forte representação evangélica os listados entre os “adversários” da causa
gay. Ao criticar o PRP (Partido Republicano Progressista) os ativistas colocam
como motivo o fato de a legenda falar em “valores da família” em um de seus
vídeos institucionais.
Além dos partidos atacados
diretamente como “adversários” da causa gay, principalmente por ter
representatividade entre os evangélicos, a cartilha faz uma análise também
sobre partidos nos quais afirmam ser possível “fazer um recorte”, de políticos
favoráveis à causa LGBT. São partidos que não tem representantes na FPE, entre
eles PV, DEM e PSB. Nessa lista são destacados partidos como PCdoB (Partido
Comunista do Brasil) e PPS (Partido Popular Socialista), antigo Partido
Comunista Brasileiro, que a cartilha afirma não ter entrado na lista dos
“pró-LGBT” apenas por não ter “um número maciço de candidatos” abertamente
dedicados à causa gay.
A cartilha trata também
sobre a relação dos homossexuais com os partidos considerados como os de maior
representação nacional: PMDB, PSDB, e PT. O PMDB, que tem oito dos seus 75
deputados federais pertencentes à FPE, é apontado como “perigosíssimo” à causa
gay. De acordo com a cartilha o perigo do partido aos homossexuais é o fato de abrigar
“os oligarcas conservadores remanescentes que geram atraso para o Brasil”, se
referindo aos políticos que restaram da época em que o partido fazia oposição à
ditadura militar.
A cartilha afirma que os
eleitores gays devem ter cuidado ao votar no PSDB, afirmando que apesar de ter
um bem estruturado setorial LGBT, o Diversidade Tucana, o partido deve ser
visto com cautela pelos homossexuais por ter quatro deputados na FPE, entre eles
o deputado João Campos, que é presidente da frente, e também pela relação do
partido com o pastor Silas Malafaia.
O PT é visto pela cartilha
como o partido mais engajado na causa gay, mas é tratado com desconfiança por
possuir dois parlamentares na FPE e pelo fato de seu senador Walter Pinheiro,
da Bahia, ter participado de manifestações contra a PLC122/06, fato relatado
pela cartilha como “imperdoável”. O texto dá ainda um destaque positivo ao
partido pelo apoio que senadora Marta Suplicy presta à agenda LGBT.
A lista de partidos é
encerrada no documento com quatro legendas consideradas pelos ativistas gays
como “pró-LGBT”, são eles: PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores
Unificado), PCB (Partido Comunista Brasileiro), PCO (Partido da Causa Operária)
e PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). O principal motivo apontado pela
cartilha para apoiar tais partidos é o fato de seus candidatos à Presidência da
República em 2010, mesmo sem uma considerável representatividade nacional,
terem todos se declarado a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Por
serem partidos de extrema esquerda, a cartilha aconselha os gays de direita a
considerarem o voto em candidatos de tais legendas, apesar de seu
posicionamento político, de forma a defender a causa LGBT e também para
proteger o estado de supostos ataques a sua laicidade.
O PSOL foi ainda destacado
por ser o partido do deputado e ativista gay Jean Wyllys, que é presidente da
Frente Parlamentar pela Livre Expressão Sexual, e por ter promovido um beijo gay
em sua propaganda política. De acordo com a publicação, “o PSOL firmou-se como
um dos principais aliados do povo LGBT”.
Um dos criadores da
cartilha foi o médico Álvaro de Lima Oliveira, 38, que afirma que uma das
motivações para a criação do documento foi que “todos conhecem a bancada
evangélica, mas ninguém sabe quem faz parte da bancada de livre expressão
sexual”.
Comentado como adversário
da causa gay na publicação, Magno Malta informou, através da sua assessoria de
imprensa, que irá pedir a retirada do seu nome da cartilha. Outros políticos
citados no texto, como Anthony Garotinho e Maluf preferiram não se pronunciar
sobre o assunto.
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