O
relatório da inteligência britânica, que aparentemente não foi lido desde a
guerra até sua descoberta recente, afirma que o ditador nazista passou a ter
"judeufobia" à medida que a possibilidade de uma derrota aumentava.
Adolf Hitler em foto de 1938; ele era paranoico e tinha 'complexo de Messias', diz análise britânica |
A
análise do tempo de guerra, agora tornada pública pela Universidade de
Cambridge, foi encomendada pelo cientista social Mark Abrams e escrita por seu
colega Joseph MacCurdy, um acadêmico de Cambridge.
Abrams,
um pioneiro da pesquisa de mercado e de opinião renomado internacionalmente,
trabalhou com a Unidade de Análises de Propaganda da BBC e com o Conselho de
Guerra Psicológica durante a Segunda Guerra Mundial.
"No
momento em que isso foi escrito, a maré estava começando a se voltar contra a
Alemanha", afirmou o historiador de Cambridge Scott Anthony, que liderou a
pesquisa sobre Abrams que resultou na descoberta do documento em uma coleção de
família.
"Em
resposta, Hitler começou a voltar suas atenções para o front interno da
Alemanha", disse.
"Este
documento mostra que a inteligência britânica sentiu que isto acontecia",
explica.
"MacCurdy
reconheceu que, diante do fracasso exterior, o líder nazista se concentrou em
uma percepção de 'inimigo interno' --especificamente os judeus".
"Dado
que agora sabemos que a 'solução final' estava começando, isto torna uma
leitura comovente".
Abrams
pensou que as transcrições dos discursos de Hitler poderiam ser percebidas como
propósitos de propaganda e inteligência, revelando um "conteúdo
latente" escondido e percepções subconscientes da mente do inimigo.
"Seu
trabalho foi utilizado diretamente pela contra-propaganda dos aliados",
explicou.
DISCURSO
A
análise recém-exibida apresenta um discurso de rádio de Hitler do dia 26 de
abril de 1942.
"Seu
conteúdo presumivelmente reflete suas tendências mentais mórbidas, por um lado,
e conhecimentos especiais disponíveis para ele, por outro", afirmam as
linhas iniciais.
Um
relatório anterior encontrou três tendências deste tipo, chamadas de
"xamanismo", "epilepsia" e "paranoia".
O
"Xamanismo" se refere à histeria de Hitler e à compulsão de se
alimentar de multidões, o que estava em declínio. O relatório de MacCurdy
apontava para o "nivelamento maçante" das trasmissões de Hitler.
As
outras duas eram características em desenvolvimento.
A
"Epilepsia" se referia a sua camada fria e cruel, combinada com uma
tendência de perder o ânimo quando suas ambições falhavam. A análise de
MacCurdy aponta que o discurso de Hitler mostrou que ele era "um homem que
está contemplando seriamente a possibilidade de derrota absoluta".
A
"Paranoia" foi a terceira e mais preocupante tendência, exposta por
meio de um "complexo de Messias" do ditador, através do qual Hitler
pensou que estava conduzindo um povo escolhido em uma cruzada contra o mal
encarnado nos judeus, afirma o documento.
Ele
observa uma extensão da "judeufobia" e afirma que Hitler passou a ver
os judeus não apenas como uma ameaça para a Alemanha, mas como um "agente
universal diabólico".
Sabe-se
agora que, semanas antes do discurso, autoridades nazistas colocaram em
andamento planos para a "solução final": a tentativa de extermínio de
toda a população judaica.
"Hitler
está envolvido em uma teia de delírios religiosos", concluiu MacCurdy.
"Os
judeus são a encarnação do diabo, enquanto ele é a encarnação do espírito do
bem".
"Ele
é um deus e através de seu sacrifício a vitória sobre o mal pode ser
alcançada", explica.
O
documento foi adicionado a um arquivo sobre o trabalho de Abrams na Universidade
de Cambridge e agora está disponível para os pesquisadores.
Fonte: Folha.Uol
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